domingo, fevereiro 18, 2007

Book of the days

Tem dias que fico meio assim, como que perdido entre vozes e olhares. E te procuro olhando nos rostos das pessoas que passam por mim ou tento fazer com que seu olhar me encontre assim no meio da cidade onde nossos encontros se constroem; tem dias que penso intensamente que a única felicidade possível é te abraçar e sentir o calor do seu corpo e se transforma em magia o momento em que sinto sua boca de leve numa espécie de beijo quase roubado que, ao mesmo, tempo, traz a leveza do vôo de um pássaro; tem dias em que me surpreendo não pensando em outra coisa que não seja seu sorriso quando falamos das coisas que escrevemos entre copos de vinhos e os toques quase furtivos de mãos sobre a mesa.
Ou dos olhares que passam pelas pessoas como se fossem invisíveis. Tem dias em que enxergo ao longe um outro lugar e um outro jeito das coisas serem, dias de sol substituindo as noites quentes e outro tipo de luz incidindo sobre seu corpo e outro enquadramento pela teleobjetiva;
Dias em que me sinto forte e ao mesmo tempo exausto, em que lágrimas escorrem entre os sorrisos e que nem sei porque vestimos tantas armaduras se pressinto o que queremos ser a mesma coisa e o mesmo abraço e outros jeitos de fazer amor. Tem dias em que tudo me parece estranho e não reconheço as pessoas mais próximas e fico olhando a calçada e ouvindo ruídos de automóveis ao longe.
Tem dias em que minha pele fica arrepiada, ao sentir sua proximidade e me recordo da fotografia e imagino em outras fotografias, e produzo mentalmente um ensaio em preto&branco sob sons de Tom Waits onde o estado latente de nossos amores possam ser revelados e tem dias que são assim mesmo, uma fusão de sentimentos desordenados ao som de Coltrane my favorite things se alternando com Enya in book of the days e coisas assim como guardar rótulos de vinhos pensando em como foram bebidos; dias em que penso em usar o telefone e inventar coisas só pra te ouvir a voz e/ou fico sem nexo dedilhando a kalimba esperando que você venha afinar e musicar nossos desejos.
Tem dias em que meu sono é atribulado porque você existir transforma a realidade em sonho e me aparece sorrindo querendo ser, e estremeço e acordo sem saber. Tem dias em que a noite é longa, justamente porque estamos fisicamente distantes um do outro, e nem sei direito como é a cidade onde você mora agora e aí fico na praça agora vazia ouvindo um cara cantar stormy e penso em estrada e em outros caminhos, porém todos eles me levam a você, e dessa forma mantenho os olhos fechados achando que um dia, vai ter um dia em que você virá e, depois, não precisará mais se ir.

(Eduardo Barrox)

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